sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

Primeiros sonetos

Não sei se já perceberam que gosto de sonetos. Acho, assim como muitos autores, que eles são a forma mais perfeita que o poeta tem para escrever suas poesias. Comecei a admira-los quando li Vinicius de Moraes. Mais tarde quando estava no curso de letras comecei a ler os sonetos de Camões e fiquem cada vez mais fã desse jeito de escrever.
Os sonetos abaixo foram os quatro primeiros sonetos que escrevi , percebam neles um pouco da influência dos autores que acima citei.
Espero que gostem!


Soneto I

Sempre quando volto à lembrança
Sinto meu corpo em plena sintonia.
Sinto o mais frio de minha agonia
E espero o que chamam esperança.

Quero que a dor do meu peito
Seja a mão de quem tanto amo
E o afago perdure um inteiro ano
Mas sei, o amor foge desse jeito.

Talvez seja lembrança do teu rosto.
Alguém me traga ao peito essa musa!
Para que eu possa finalmente sorrir.

E ver toda Minh’ alma respirar o gosto.
Contudo, se a vida me agride e usa
Não posso ir mais adiante do que vivi.


Soneto II


Seus olhos refletem o amanhecer.
Sua pele é sinônimo de volúpia ardente.
A proximidade de seu corpo faz-me quente,
Deixando-me desvanecido de tanto prazer

A lembrança do seu rosto sereno
Entristece-me e logo obstante
Embora o tempo seja o instante
Nesse momento torna-se o veneno

As duras penas desvendo os olhos tristes.
Faço desse amor apenas necessidade
E a vontade personagem dum duro drama

Jamais meus olhos lúcidos vistes,
Nem meu corpo despejar ingenuidade
Por isso vivo apegado em minha trama.


Soneto III
(Soneto para Daniela)

Tão linda já te imaginava e sonhava
Desde o iluminado ventre percebia
Da formosura de onde saia, pensava
Serás entre as rosas a mais bela vinda

Da sua fragilidade sou responsável
Da sua suave pele sinto a macieis
Do teu corpo angelical vejo alvidez
E dos olhos teus sois amável


Como Midas, para mim tudo que tocas
Da minha vida será preciosidade
Pois meu coração o carinho contenta

Um pedido a Deus peço em rogas
Cresça com meu afago e felicidade
E que esse peito de amor por ti arrebenta.


Soneto  IV
(Soneto para Maria)

Da mesma forma de outra vinda
Mas tu chegaste em um dia santo
Esperei por ti com os olhos em pranto
E pedi a Deus que fosse linda

Iguais aos meus são teus cabelos negros
Em ti também figura a mesma palidez
Da angelical cor que tens a alvidez
E teus olhos grandes sopram meus segredos

Não posso esconder o quanto te amo
E assim serão felizes todos meus dias
E se, por acaso, me perder, terás um plano.

Então retornarei com toda vontade
Enxugando minhas lágrimas com teu pano
Pois serás para sempre minha felicidade.

quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

Poesia da Vida

“Ser ou não ser?” um cachorro!

Às vezes eu queria ser um animal!
Um cachorro, por exemplo, que deitado
Ali em frente da casa que não é sua
Olha para o nada, a procura de não sei o quê,
Mas que não me parece solução racional.
Do tipo, pagar suas contas. Sabes por quê?

Porque suas contas não vencem amanhã.
Até porque não tem contas!  E nem faz conta
Que sem contas, nada contra, tudo conta a seu favor.
Não se aborrece com vizinhos e suas risadas
Ou entristecesse com as atrapalhadas do amor.

Mas, também, às vezes não queria sê-lo.
Porque às vezes me vejo a detê-lo.
Privo-o, com um alto grito, seu sono,
Enxotando, que dorme, o amigo do homem
Aqui em frente da casa da qual sou dono
De repente não o vejo.  Em disparada, somem.

“Ser ou não ser?” um cachorro!
Que difícil decisão ser, por mim, tomada.
Não pagar contas, dormi despreocupado,
Ou, de súbito, de mim levar uma pancada!

sábado, 19 de fevereiro de 2011

Outras História Marajoaras

História de Onça

     Alguém já ouviu falar em onça que correu de medo de um simples humano! Não? Pois bem, a história que contarei pode até soar aos vossos ouvidos como uma inverdade. Até entendo!  Não é nada comum ouvir dizer que uma onça, onça pintada mesmo, felino altamente feroz, de atalhassadura mortal, que habita nossa Amazônia, correu de medo de um homem. Mas peço que atentem com carinho essa história.
     Tudo começou quando o Arruda – personagem dessa história – resolveu ir juntar uxi, um fruto típico do Pará e de quase toda a região amazônica, que tem uma casca grossa e dura e é oval alongado, mas cujo sabor forte é muito apreciado pelos marajoaras. Nosso “herói” sempre gostou de uma boa aventura pela mata. Gostava de se embrenhar pela selva durante vários dias. Era um prazer a vida de mateiro. Quando não ia caçar, ia catar frutos pela mata.
     Mas como disse, nesse dia foi catar uxi, pois era tempo desse fruto.
Quando chegou ao uxizal, lugar bem dentro da mata, onde a vegetação é densa e com muitas árvores altas, como o uxizeiro, castanheira, sumaumeira, andirobeira e muitos outros tipos de arvores daqui dessa região. Começou a juntar os caroços e colocá-los numa sacola, quando de repente ouviu um urro medonho, mas um urro tão forte que lhe subiu um frio na espinha. Mas deixe está!  Essa história aconteceu com o Arruda... Permitam-me antes tecer um breve comentário sobre nosso “herói”.
     Não o conheci pessoalmente, mas meu pai sim. Para se ter uma idéia, toda vez que meu velho pai contava uma história, esse tal Arruda povoava cerca de noventa por cento delas. O mais interessante de tudo era a capacidade  que esse cidadão tinha de se mete em confusão, sempre estava “na hora certa, no certo lugar”. Tinha um dom especial para entrar nas mais estranhas aventuras nessa terra de abençoada. Nem falarei de seu “compadre”, outra figura excêntrica que também possuía tal “dom”. Basta mencionar uma lanterna de 72 elementos que eles fizeram, mas isso é “pano de manga” para uma próxima história.
     Voltamos à historia. Pois bem! O Arruda tinha sentido aquele frio na espinha por causa daquele urro que vinha por detrás de um moita. Não dava para ele enxergar o animal que emitira daquele sonoro e aterrorizante urro, muito menos dava para o bicho enxergá-lo. Pensou em correr. Meu Deus do céu, que é isso? Num trouxe nem a espingarda - sua espingarda, outra historia a parte, não era uma lazarina de Alexandre, mas também não negava fogo. Mas como falei o Arruda, é o Arruda.
      Resolveu espiar. Arrastou-se por dentro do mato, tal qual um soldado em pleno exercício milenar. Os espinhos furavam-lhe o peito, os galhos puxavam-lhe a roupa, os carapanãs zoavam em seu ouvido. Chegou perto. Olhou entre dois troncos de castanheiras e avistou uma coisa maravilhosa. Pra quem gosta do excêntrico era um prato cheio. O animal que fazia tanto barulho, e que metia tanto medo ao nosso “herói” era uma onça pintada, enorme. O curioso de tudo foi que ele a reconheceu. Era a mesma que lhe dera uma carreira há uns meses atrás, quando caçava com seu compadre. É tu desgramada! É tu mesmo!
     Ficou espiando. O felino estava afiando suas unhas numa arvore-de-mosquito, conhecida com carapanaúba, cujo tronco e cheio de frestas grandes, muito parecido com um taperebaceiro. Vocês já apreciaram um gato, um gatinho desses de casa, amolando suas unhas num tapete qualquer? Era mais ou menos isso que a onça estava fazendo. Mas eis que, por ironia do destino, ela engata as duas mãos nas frestas da arvore, bem na frente do Arruda. Ele ficou observando o animal fazendo todos os esforços para se soltar, sem nenhum sucesso. Confirmou que estava realmente presa e não podia sair.  Ah! Tu ta presa! Agora tu me paga sua bicha traiçoeira! Saiu da moita e parou bem em frente daquele animal, o qual pouca gente teve oportunidade de ficar frente a frente e voltar para contar a historia. A onça ficou transtornada com a presença dele, urrava, esperneava tentando acertá-lo, porém tudo em vão. Estava realmente presa. Então, ele começou a tirar o cinto do cós, lentamente, sem pressa alguma. Deu uma volta com o cinto na mão, deixando a fivela na ponta oposta e foi murmurando:
     - Agora tu me paga! Agora tu me paga, sua desgraça!
     Começou a surrar a onça. Deu. Deu. Deu. Acertava pela cara da “bicha”, pelo espinhaço. Deu tanta fivelada no animal que ela se urinou toda. Mas de tanto fazer força que se soltou. Deu um pulo tão grande para trás, caindo de frente pro seu carrasco. Pronto, agora to morto! Pensou. Se eu correr ela me pega! E encorajado pelo temor que lhe afligia deu um grito bem alta:
     - Quer mais uma! E amostrava a cinto.
     O animal, como que compreendesse o que ele estava falando, sacudiu a cabeça umas quantas vezes, dobrou o corpo, deu outro pulo gigante e desapareceu na mata. Ele se ajeitou, pegou a saca com uxi e rumou para sua casa. Chegando lá tomou um banho e saiu. Foi tomar uma com os amigos e logo que chegou à rodada contou a história para seus parceiros e lógico, ninguém acreditou.



quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

Poesia da Vida

Falamos a mesma língua, sofremos a mesma íngua.

Você vê através de muros e grades.
Eu vejo ao longe pelo arame farpado
O gado e ouço todo dia no rádio
Falar de políticos, jogadores e padres,
Envolvidos em escândalos sérios e graves

Não muda a situação,
Só muda a localização.
Falamos a mesma língua,
Sofremos a mesma íngua.

Não é porque eu moro e luto no norte.
Que meu som difere do seu e dos outros
Pois eu vejo todo dia o sofrimento do povo
O que peço para todos é um pouco de sorte
Pra Deus, que me dê boa vida e depois boa morte.

Meu mundo é igual ao seu,
Teu sonho é igual ao meu.
Nós temos o mesmo nome,
Sofremos a mesma fome.

terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

Poesia da vida

Urubu do Ver-o-Peso I

Fitei aqueles urubus e logo veio na memória
O ditado a esse animal que dão tanto desprezo.
Parei e fiquei pensando naquela velha história
Famosa saga acerca do urubu do Ver-o-Peso.

Analisei bem e tudo é a mais pura verdade.
Aquele monte de bicos negros se enlameando,
Canela tuíra e por guelra pálida se engalfinhando.
Ouvi novamente por um instante a história
Que me contaram ainda em mocidade

Não estão ali para matar sua pouca fome,
Mas pela algazarra, aparecer na foto rara
Aquele puxa-puxa, aquele pé na cara
Faz jus tanto o nome quanto o sobrenome:
Urubu do Ver-o-Peso.