segunda-feira, 29 de novembro de 2010

Poesia da vida


O Baringá

Debaixo de uma árvore montei um bar.
Mas não era uma árvore qualquer.
Foi um dia, pequena semente de ingá,
Que plantei quando cheguei aqui,
E foi crescendo com ampla fronde.
Hoje tem muita sombra, não só pra mim
Como para um porco que ali se esconde.

A primeira intenção não era um bar,
Era apenas um lugar legal pra conversar.
Mas o trocadilho não tardou e chegou.
Disse ao sentar-se um amigo meu:
Um lugar que parece e é igual a um bar
Debaixo do ingá, outro nome não recebeu
Senão a junção das palavras: baringá.
E não foi por acaso que isso aconteceu.

Agora toda vez que meus amigos sonham
Em passar um fim semana aqui comigo,
Corro pra limpar o baringá, essa coisa única.
Porque sabem como é reunião de amigos
É regado a muita comida, bebida e música.

segunda-feira, 22 de novembro de 2010

O peso de uma palavra.

     Efemeridade é o substantivo mais comum na vida do pobre, embora nem saiba seu significado. Tudo em sua  vida é efêmero. Porém a coisa mais efêmera é o dinheiro, pois quando o pobre recebe seu salário, ou melhor, antes mesmo de recebê-lo, já acabou. É a conta de luz, de água, do comércio, da padaria, do açougue e muitas outras e de muitos outros credores. Para completar tanta dívida, os juros por atraso, o aumento dos preços das mercadorias – sem falar, mas já falando – do aumento da família, já que a mulher espera o oitavo filho, e olha que o mais valho completou nove este ano.  Nem pode se alegrar o pobre com o aumento do salário anunciado pelo governo – um irrisório salário de quinhentos e dez reais, enquanto um deputado recebe mais de vinte mil, fora aquelas verbas de gabinete – porque, quando sair o tal  salário, o preço das mercadorias já ultrapassou o percentual do reajuste. Por toda essas coisas ruins acontecendo na vida do pobre que fica difícil acabar com o peso daquela palavra.
     Existe, ainda, um agravante para a tal efemeridade do homem desprovido de sua dignidade. A sua expectativa de vida vem diminuindo a cada ano, embora os meios de comunicação de massa divulguem, incessantemente, que a cada pesquisa – logicamente, sempre encomendada pelos interessados – o brasileiro vive mais, e melhor. Tenho dúvidas se o pobre, aquele que vive com menos de um salário mínimo, entra realmente nessas pesquisas, até porque eles nem sabem onde o pobre mora e não procuram saber.
     Outro fato curioso à respeito da vida do pobre brasileiro, relacionado ainda a expectativa de sua vida, é a justamente a falta de expectativa, já que pode morrer a qualquer momento, logicamente por mortes consideradas de pobre: uma bala perdida - que sempre encontra a “costela” do pobre - ; uma dengue hemorrágica; uma doença de Chagas; um deslizamento de terra; uma enchente causada pelo do tão falado aquecimento global; ou até mesmo atropelado - já que ele só anda a pé. Quando morre dessa última maneira, nem querem saber da vida, da história, da família do “filho da mãe!” que se meteu debaixo do carro, perguntam logo a marca e modelo do carro, se for um utilitário importado, morreu “bem na foto”, mas se for um popular ou um coletivo, morreu mal.
     Muito se fala na ajuda que vão dá aos pobres e nos programas do governo em benefício dos desamparados, mas o que dão a eles, como falei anteriormente, são aumentos salariais ínfimos, enquanto aumentam o piso salarial de alguns políticos para vinte e poucos mil reais, ou quem sabe noventa e dois por cento em cima do salário bruto, enquanto dão ao pobre “bolsas” de todas as espécies (bolsa família, bolsa escola, bolsa trabalho e muitas outras bolsas - menos uma com dinheiro!) e míseros auxílios de todos os tipos e marcas.  Até para bandido dão benefícios muitos melhores do que dão ao pobre. Às vezes me pergunto! Para que tanto benefício? Para que tanta bolsa meu Deus? Será desencargo de consciência dos nossos governantes ou eles pensam mesmo nos miseráveis? Sei não!
     Se o pobre conhecesse o significado da palavra que nos trouxe até essa discussão, pediria a Deus para tirá-la do dicionário da língua portuguesa e a trocasse por inexorável, mesmo não sabendo o que significa.

sexta-feira, 19 de novembro de 2010

soneto para um violão II

Eu vi meu violão sorrindo.
Eu vi meu violão sorrindo,
Pois me sentei e comecei a tocá-lo.
Seu riso era um arranjo surgindo,
Todo harmonioso e bom escutá-lo.

Eu vi meu violão sorrindo,
Porque havia saído daquele canto,
Onde dias deixei-o esquecido.
Mas agora seu canto é tanto.

Eu vi meu violão sorrindo.
Fiz nele um rif dos Engenheiros,
Aquele! Que fala de sinceridade.

Sorriu-me um riso, sem valor de dinheiro,
Mas deixou-me com tamanha felicidade,
Como um homem virgem num puteiro.

quinta-feira, 18 de novembro de 2010

Soneto para um violão

Eu vi meu violão chorando 

Eu vi meu violão chorando.
Não porque fazia um arranjo!
De meu dedo em suas cordas correndo!
Ou da alegria de anúncio de um anjo!

Eu vi meu violão chorando.
Ali no cantinho da sala.
São dias que não me vê cantando.
São dias que não ouve minha fala.

Eu vi meu violão chorando.
Não pensem que não gosto dele.
Mas faz dias... daquela melodia.

Até porque tenho paz com ele!
Até mesmo em qualquer triste dia!
Mas amanhã farei sua alegria.