quinta-feira, 8 de setembro de 2011

   
         A verdadeira história sobre o mapinguari

Existem várias lendas dentro do imaginário amazônico. Uma delas é muito presente na vida da população marajoara e também é objeto de estudo de muitos, principalmente, por parte de paleontólogos: a lenda do mapinguari. Quem ainda não ouviu falar? Criatura cuja existência pode ser considerada verdadeira pelo fato de existir registro, de mais 12 mil anos atrás, no período pleistoceno, da presença da preguiça gigante (Eremotheriumlaurillardi), por essa região amazônica.
No imaginário do homem marajoara, entretanto, o mapinguari é um ser protetor da floresta, que não tolera quem a maltrate, principalmente, caçadores cruéis, que não é o caso dessa história. Quando esse ser fica de pé pode chegar até três metros de altura, seus pelos vermelhos, suas garras afiadas, seus pés virados para trás, sua bocarra na barriga, são algumas das características dessa criatura ameaçadora a qual o povo nativo da amazônica aprendeu a respeitar e ter pavor. Embora com toda essa fama, o mapinguari não meteu medo no Compadre do Arruda. Isso mesmo! Ele teve a proeza de descobrir a verdadeira história desse ser místico. Ouçam só essa!
Já comentei em outras histórias que tanto o Compadre do Arruda, quanto o próprio, sempre foram chegados a uma boa caçada. Lembram-se da história da onça? Da lanterna de 72 elementos?Ou, ainda, daquelas caçadas que lhes contei? Pois bem! O compadre do Arruda estava numa dessas aventuras pela mata. Se não me engano estava no rastro de uns caititus. Já estava cansado e já era quase cinco e meia horas da tarde, período mais hostil da floresta, onde começam a aparecer muitas coisas estranhas e se a pessoa não for forte acaba ficando assombrada pelas coisas que ouve. Ele estava no rastro dos bichos desde as duas da tarde. Não suportava mais as dores nos pés. Resolveu, então, parar para dar uma descansadinha na beira de um lago, num lugar bonito, com muitas árvores ao redor. Ficou atrás de um dessas árvores. Tirou os sapatos e observou ao redor. Tudo estava na mais tranquilidade. Mais um segundo e o silêncio se quebraria. Ouviu um grito parecido com o de outro caçador, mas um grito estranho que um tremor tomou conta de seu corpo, que até se podiam escutar os estalos dos ossos, nunca tinha sentido aquela sensação da sua vida. Não pode ser outra pessoa! Não com aquele grito. Rápido se jogou o chão, em posição de um soldado preparado para uma batalha sangrenta, só que com muito mais medo. O que será? Pensava ele, agarrado a sua 20. A Coisa deu mais um grito. Ele, com instinto de caçador que tinha, resolveu espiar, pois se não fosse isso, tinha corrido com mais de mil dali, já que o grito do bicho fazia com que todos os animais se calassem. Não se escutava sequer um calango pisando sobre as folhas secas. Então, levado pela coragem, foi se arrastando, arrumando um ângulo que pudesse ver de que se tratava  até enxergar do outro lado do lago um bicho jamais visto. Animal que de longe lembrava um primata gigante. Tinha a cor escura e, agora, não parava de gritar. Ele ficou completamente apavorado vendo aquele ser, dando gritos sucessivos. Deve ser o mapinguari! Só pode ser o mapinguari! Nenhum caçador que ele conhecia, jamais tinha ficado frente-a-frente com o mapinguarie voltado para contar a história, ou era comido ou ficava com sequelas terríveis e completamente enlouquecido do juízo. Sabia que o bicho não suportava caçadores e devorava todos que pegava. É o meu fim! Pensava o compadre do Arruda.
Passados alguns segundos de sucessivos berros, o bicho deu uma parada. Estava em pé. Dobrou o pescoço de um lado para o outro como se observasse que não havia ninguém por perto. Ficou inerte por uns dois minutos. De repente saiu debaixo daquele monte de pele negra um homem, parecia de longe um índio, um índio muito velho, só uma folha cobria sua vergonha. O compadre ficou abismado com aquilo. O velhinho indígena tirou a folha que cobria suas partes íntimas e se jogou no lago. Ficou boiado, como se ali fosse uma piscina particular. Então, é tu o mapinguari! Disse bem baixinho o compadre do Arruda, com um pequeno sorriso no rosto.
Lembram que falei para vocês que com esses dois não dá para brincar. Logo na frente de quem o mapinguari foi se descobrir. Não teve outra. O Compadre do Arruda saiu bem devagarinho de onde estava, ia praticamente flutuando sobre as folhas e galhos, por entre as arvores, até chegar aonde a capa do mapinguari estava. O índio nem se dava conta de nada. Estava num banho delicioso que parecia estar em outro mundo. Nosso anti-herói observou aquela fantasia, diga-se de passagem, bem elaborada.  Era uma carcaça de uma anta gigante com uma cabeça seca enorme de um queixada, várias camadas couros de antas cobertos por fora com couro de porco-do-mato, as garras eram de onça pintada. Tinha ainda um megafone feito com três coroatás de inajazeiro. Tudo aquilo pesava mais ou menos uns 200 quilos. Como aquele velho índio conseguia carregar aquele troço? Isso sim era de meter medo! Estava escorado em uns galhos. Por isso que o bicho ficou parado por mais de dois minutos! Pensava ele. Então, sem pensar se meteu debaixo da roupa de mapinguari e se pôs a gritar o mais alto que podia. Quando o índio, que tomava banho no lago, viu sua roupa se mexendo e em berros não pensou duas vezes, nadou tão forte para o outro lado do lago, correu para dentro da mata e nunca mais se ouviu falar que o mapinguari comera algum caçador novamente.

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