terça-feira, 5 de abril de 2011

Memórias

A primeira “mucura” a gente nunca esquece!

A primeira vez que vim a Retiro Grande foi no ano de 93, não sei bem o mês, mas quando lembrar citarei na próxima memória. Vim com alguns amigos que estudavam comigo em no Ademar de Vasconcelos, fazíamos o 1º ano.  Um deles era filho daqui, então foi fácil descobrir o “caminho das pedras” para esse paraíso de tranquilidade.
 Lembro como se fosse hoje. Embarcamos em um ônibus o qual todos os dias fazia viagem para esses lados.  Batizamo-o de “transamarrado”, já que era um ônibus muito velho, todo amarrado com tiras de câmara de bicicleta em todas as partes, aquelas mesmas que usávamos para amarrar nossas baladeiras.  Tinha que ser assim, quem em sã consciência iria colocar, naquela época, um ônibus novo para fazer essa linha com as péssimas condições da estrada. Vir para cá, nesse ônibus, era uma aventura sem igual. Nós éramos cinco e nenhum de nós, exceto nosso anfitrião, tinha visitado esse lado do Marajó. Sabíamos que era um lugar de campo, onde as pessoas viviam da agropecuária, que tinha muitas fazendas e, claro, muitas meninas bonitas.
Saímos umas onze horas rumo ao nosso destino. A viagem era longa devido às muitas paradas que íamos fazendo nas diversas localidades, tanto de Salvaterra, quando de Cachoeira, mas era vista sempre aquele ar de aventura. Chegamos umas duas horas da tarde na casa de nosso amigo e anfitrião. Deixamos nossas coisas num quarto e fomos almoçar. Almoçamos aquele frito do vaqueiro. Passados alguns minutos tomamos aquele leite fervido com farinha d’água e uns pedaços de queijo do Marajó. Descansamos um pouco e lá pelas quatro horas conseguimos arrumar uns cavalos para montar. Eram legítimos cavalos marajoaras.  Eu não sei bem diferenciar essas raças, mas os marajoaras são um pouco menores do que os outros, mas em compensação são muitos resistentes. Arranjamos um “cardão” e um “melado”. Não eram bonitos e tive a impressão de serem de boa idade, mas como diz o ditado: “cavalo dado não se olha o rabo!”. Saímos para dar umas corridas pelos os campos de Retiro Grande, campos limpos, que fascinavam nossos olhos. Ainda não tinham esse emaranhado de cercas. As casas, umas longe das outras, pareciam estar dentro de um mesmo quintal e por muito tempo continuaram assim, até chegar a ganância e a ambição no coração de algumas pessoas. Bom! Mas não vim falar disso! Como estava dizendo! Pegamos esse dois cavalos para dar algumas voltas. Caímos umas quantas vezes. Brincamos de guerra de merda de boi seca. Foi uma diversão. Tudo era novo. Aquela quantidade de búfalos pastando logo ali pertinho da gente, gado comum, cabras, bodes, pássaros de todos os tipos. Um lugar tão excepcional que me fez pensar: “não teria dificuldade nenhuma de um dia morar aqui”.
Quando chegou a noite soubemos de uma “mucura” – pequena festa arrumada as pressas com o intuito de vender algumas cervejas – que ia acontecer ali perto de onde estávamos. Seria a oportunidade de conhecer as tais meninas de Retiro Grande. Caminhamos ruma à festa, mas o mais interessante era que não ouvíamos quase nada da música que a animava. Íamos nos aproximando da festa e nada de ouvirmos um ruído sequer. Entramos na festa e percebemos um som baixinho, bem diferente daquele que tocava lá em Salvaterra, na quadra do Arco-íris. A aparelhagem era um micro system, duplo deck, e o DJ se virava com as fitas para que a música não parasse de tocar. Pedimos uma bebida e ficamos apreciando o movimento. Olhávamos para todos os lados e nada de enxergarmos uma presença feminina na festa. Até que avistamos uma, mas ela estava cercada por uns vaqueiros, que a tiravam para dançar toda hora. Não quisemos entrar na disputa, afinal não éramos do lugar e isso poderia nos causar algum transtorno. Ficamos esperando aparecer mais algumas meninas, porém fui tudo em vão. Nada.
            O melhor de tudo isso foi que nesse dia conhecemos a hospitalidade do povo Cachoeirense que nos tratou muito bem. O dono da festa nos ofereceu umas bebidas grátis e um tira-gosto de porco. Até quem não comia carne de porco, nesse dia comeu. A festa chegou ao final e mais nenhuma mulher veio dar o ar de sua graça, só aquela que dançava com os vaqueiros. Saímos decepcionados, mas felizes, afinal participamos de nossa primeira “mucura” no Marajó.

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